sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Fisiologia da sucção

     Desde o período embrionário, o feto prepara-se para exercer as atividades de sugar, deglutir, respirar e chorar, que irão possibilitar sua sobrevivência ao nascer. Para tanto, é munido dos reflexos orais, que garantem sua alimentação nessa fase inicial do desenvolvimento, e apresenta características anatômicas diferenciadas, que facilitarão a alimentação no período neonatal.
     Devido ao pequeno crescimento mandibular no período neonatal (retração mandibular fisiológica), a língua se apóia sobre a gengiva ou lábio inferior, em uma posição anteriorizada e rebaixada, ocasionando um espaço aéreo-faríngeo que obriga à respiração nasal, a qual ocorre em todo recém-nascido. O volume aumentado da língua, maior que a estrutura óssea que a suporta (mandíbula), está ligado à sua função na alimentação, já que o contato com o lábio inferior permite uma postura adequada para a amamentação. Na parte posterior da boca, a base da língua encontra-se bem próxima à epiglote, em razão do posicionamento mais alto que a laringe do recém-nascido ocupa até o terceiro ou quarto mês, com função de proteção das vias aéreas inferiores durante a deglutição, facilitando também o acesso do alimento.
     As estruturas anatômicas mais importantes para o funcionamento oral do recém-nascido são: cavidade oral, lábios, língua, bochechas, mandíbula, palato duro e mole, osso hióide, cartilagem tireóide, epiglote, musculaturas faciais e periorais, músculos constritores da faringe e além dos outros quarenta músculos que envolvem a movimentação de todo o sistema oral. Os pares de nervos cranianos responsáveis pela inervação dessa musculatura são os pares: I (olfatório), V (trigêmeo), VII (facial), IX (glossofaríngeo), X (vago) e XII (hipoglosso).
     Os reflexos orais do recém nascido garantem sua alimentação nessa fase inicial do desenvolvimento, e são os seguintes: busca ou procura (ativado mediante toque na bochecha e, principalmente, nos quatro pontos cardeais dos lábios), cuja função consiste em localizar o seio materno; sucção (desencadeado pelo toque na ponta da língua e papila palatina), sendo sua função a retirada do leite; e deglutição (obtido mediante estímulo do leite na região posterior da língua, palato mole, faringe e epiglote. Há, ainda, os seguintes reflexos de proteção da deglutição: mordida (obtido mediante o toque na região interna das gengivas), vômito (desencadeado pelo estímulo na ponta da língua quando há negação total da deglutição) e tosse. Após o quarto ou quinto mês, com o crescimento das estruturas orais, o amadurecimento do sistema nervoso e as possibilidades de experimentação oral adequada da criança, essa condição basicamente reflexa vai se modificando, sendo substituída por um padrão voluntário de movimentação oral.
     Apesar de a sucção ser um ato reflexo, a extração do leite do seio materno não é, o que exige do bebê aprender a retirar o leite, adaptando suas condições orais anatômicas para o encaixe na mama de sua mãe. Na pega correta, o bebê realiza uma abertura ampla da boca, abocanhando não apenas o mamilo, mas também parte da aréola, e formando um lacre perfeito entre as estruturas orais e a mama. Para a formação desse lacre, na parte anterior os lábios estão virados para fora, e a língua se apóia na gengiva inferior, curvando-se para cima em contato com a mama. A finalidade do lacre consiste na formação do vácuo intra-oral (com a presença de pressão negativa), formado por movimentos da mandíbula associados aos dos lábios, bochechas e coxins de gordura. Os coxins de gordura são bolsões de gordura localizados entre a pele e a musculatura das bochechas, com a finalidade de auxiliar na sustentação das estruturas orais para o acoplamento perfeito ao seio.
     A mandíbula se apóia sobre os seios lactíferos e o bebê abocanha o mamilo e aproximadamente 2 a 3 centímetros de aréola. Na parte posterior da boca, a língua se eleva e funciona como um mecanismo oclusivo contra o palato mole, estabelecendo, assim, a pressão intra-oral negativa. Essa pressão mantém a mama dentro da boca do bebê, desta forma, o mamilo e a parte da aréola são deslocados para o interior da boca, sendo que o bico do seio toca a região de transição entre o palato duro e o palato mole, facilitando a extração do leite e a deglutição. A mandíbula realiza um ciclo de movimentos, iniciando com o abaixamento para a abertura da boca, posteriormente ocorre a protrusão com o objetivo de alcançar a mama, e por último a mandíbula realiza uma elevação para imprimir o fechamento da boca e a compressão dos seios lactíferos. Os movimentos mandibulares trazem estímulos importantes para o crescimento da articulação têmporo-mandibular (ATM) e, consequentemente, para o crescimento harmônico da face do bebê.
     Durante a amamentação, a língua eleva suas bordas lateralmente juntamente com a ponta, formando uma concha, que levará o leite para ser deglutido na orofaringe. Quando o leite se deposita sobre a língua, na região posterior da boca, entra em ação um movimento peristáltico rítmico, direcionando-se da ponta da língua para a orofaringe, que comprime suavemente o mamilo por inteiro e termina o processo de extração de leite para o início da deglutição. A ponta da língua se mantém na região anterior durante todo o processo, garantindo o vedamento da boca. Desta forma, o leite é extraído suavemente, sem a utilização de macanismos de força, o que poderia causar atrito e esfolamento dos mamilos.

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